Modalidades

Pichardo quer bater com a porta ao Benfica e arrasa muita gente

Pedro Pablo Pichardo, atleta do Benfica.

Pedro Pablo Pichardo concedeu uma entrevista ao diário desportivo Record, onde revelou a intenção de deixar o Benfica, havendo já negociações nesse sentido.

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O atleta do triplo salto não se sente devidamente valorizado e aponta o dedo a várias pessoas da estrutura, sobretudo Ana Oliveira, diretora da modalidade.

Pichardo revela que a sua ideia passa por desvincular-se do Benfica a bem para prosseguir carreira noutro país e recusa o rótulo de ingrato em relação ao clube.

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Abaixo a entrevista na íntegra:

RECORD – Tem contrato com o Benfica até Paris’2024?

PEDRO PICHARDO – Não. O meu contrato vai até Los Angeles’2028. Nem eu nem o Benfica tínhamos falado ainda na duração do contrato.

RECORD – É para cumprir até essa data?

PP – Estamos a tentar negociar…

RECORD – Negociar o quê? A sua saída antes do fim do contrato?

PP – Estamos a ver se fico no Benfica ou não. Porque no nosso país, Portugal, não Cuba, não valorizamos muito o atletismo. Sou pessoa bastante humilde, mas gosto que valorizem o que faço, mesmo que não seja um jogador de futebol. Estou com a Puma desde miúdo. Com o passar do tempo fui conquistando resultados, que hoje a Puma valoriza.

RECORD – Está a dizer que o Benfica não o tem valorizado, é isso?

PP – Não é só o Benfica. É o país em si. As pessoas dizem mesmo: ‘tu és bom, mas és do atletismo’. Dói-me um pouco sentir isto. Treino de segunda a sábado, de três a cinco horas por dia.

RECORD – Os clubes em Portugal não dão essa valorização aos atletas que não sejam futebolistas?

PP – Aqui em Portugal não. Mesmo eu que sou um bom atleta não a tenho. Não sei se a Patrícia [Mamona] tem, ou se o Nelson Évora teve em determinado momento, mas acho que não temos. E se temos é porque alguém nos oferece alguma coisa por amizade ou outro tipo de relação, porque gostam de nós. A cultura do país é diferente de outros. Em Portugal referem-se a nós como sendo de modalidades, alta competição. Em Espanha, falam em desporto, no Brasil também, em inglês também, é desporto para todos.

RECORD – Mas a possibilidade se desvincular do Benfica é para já?

PP – Estou a tentar falar com eles, sair do clube da melhor maneira.

RECORD – Mas tem falado com quem?

PP – Com o vice-presidente [Fernando Tavares].

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RECORD – Já falou com o Rui Costa?

PP – Não é fácil falar com o presidente. Com o vice-presidente é mais fácil e temos falado frequentemente, quero tentar sair de uma boa maneira, porque sou grato ao Benfica pelo que fez por mim. A minha motivação de querer sair é porque gostaria de ser mais valorizado pelo que tenho conquistado nestes anos.

RECORD – Se deixar o Benfica e tendo em conta que também está desiludido com o país em geral, não vai para outro clube em Portugal…

PP – Não, isso não.

RECORD – Então o objetivo é continuar a carreira num outro país, é isso?

PP – Sim, é sair para outro país, mas como tenho ainda contrato com o clube, por enquanto não é ético estar a falar de outro. Mas não passa por ficar em Portugal.

RECORD – Não teme que os adeptos do Benfica e os portugueses em geral o acusem de ingratidão?

PP – Não. Daí estar a falar com o Benfica e não é de agora. Mas tenho agora a oportunidade de explicar, para que os adeptos do clube e o povo português saibam o motivo por que é que quero sair. Já conquistei quase tudo e sinto que não estou a ser valorizado.

RECORD – Quando diz que não é valorizado é monetariamente?

PP – Em tudo. Por exemplo, o fisioterapeuta que trabalha comigo é da Federação, é uma coisa básica, simples. Não é do clube. Tinha um que era do Benfica, mas deixámos de trabalhar juntos em 2019. Um dia chegou alguém do clube, que não vou mencionar nome, mas que já devem saber quem é, disse ao fisioterapeuta, não a mim, que deixaria de estar comigo.

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RECORD – Essa pessoa é a Ana Oliveira?

PP– Certo. O fisioterapeuta disse-me que essa pessoa lhe tinha dado como explicação que o clube tinha muitos atletas. Foi o último fisio do Benfica que trabalhou comigo. Isto os adeptos não sabem, nunca falei antes disso e sou eu que passo por ingrato?

RECORD – Você e a Ana Oliveira estão em choque. O Benfica tomou partido da sua diretora?

PP – Claro. O Benfica tem que se posicionar a favor da diretora é lógico. Expliquei ao vice-presidente e ao presidente as minhas razões. Quem tem 15 anos de clube é a Ana Oliveira eu cheguei ontem. Mas ela teve muitos problemas com muitos atletas, não foi só comigo. Mas como somos do atletismo, para o clube é indiferente. Se ela estivesse ligada ao futebol, já não estaria no clube. Ou seja, como somos de outra modalidade, ‘vocês entendam-se’. Para o clube, estes problemas não são importantes.
(…)
Todas as decisões no atletismo têm de passar pela Ana Oliveira, ela fez o que entende…Por exemplo, o meu pai é licenciado em desporto, mas treina o triplo. Não treina um atleta de barreiras ou do peso. No futebol, há também um treinador para os guarda-redes. Ela [Ana Oliveira] treina todos os atletas e repito se esta situação acontecesse no futebol já estaria resolvida. Há muitas outras coisas, podíamos estar aqui a falar o dia todo para perceberem que quando deixar o clube não digam que o Pichardo é ingrato. Há coisas que se passaram que ela nunca falou. Quando tive alguns problemas com ela foram desvinculados, e associaram que era a mãe da minha filha. Há que ouvir as duas partes…

RECORD – Mas o Benfica ouviu as duas partes do conflito?

PP – Expliquei ao vice-presidente e ao presidente. Saímos da reunião e [pausa], as coisas continuaram como estão.
(…)
Vou dizer-te uma coisa simples. Este ano saltei, competi até maio, consegui dois recordes nacionais, fomos campeões nacionais de clubes, fui campeão da Europa, venci uma etapa da Liga Diamante. No meu contrato diz que os prémios têm de ser pagos até outubro. Estamos em dezembro e ainda não recebi os prémios do clube. Não passo recibos verdes, são eles que têm de me transferir o dinheiro. Pergunto? Sou eu que estou errado? Sou eu que sou um ingrato? São várias coisas que têm acontecido. Gosto de ser tratado pelo que eu faço. Eu não tenho de ser bom amigo ou amigo de uma pessoa dentro do clube para ter certos privilégios. Quando tinha boas relações com essa pessoa não tinha problemas no Benfica. Nem falta de fisioterapeuta, nem outro tipo de apoios. O que tenho aqui [aponta ao seu redor na pista de atletismo de Setúbal, onde foi feita esta entrevista] é com o apoio da Câmara de Setúbal.

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RECORD – O Benfica procurou inteirar-se do que se passava consigo este ano, da lesão?

PP – Não. Na questão do apoio médico em si o Benfica não me apoia desde 2019. Fui tratar-me à Alemanha com a Puma…O Benfica só me paga o salário e eu vou às competições. Quanto ao resto, desde 2019 que não tenho apoios. O fisioterapeuta que trabalha agora comigo é da Federação. Eu estou aqui agora pela Câmara de Setúbal. Tenho aqui numa sala umas máquinas de ginásio que o Benfica me ofereceu quando tinha relações com aquela pessoa. Desde 2019 e até hoje o Benfica só me paga o salário e eu compito. Não tenho apoio deles.
(…)
Mas só queria mesmo que as pessoas percebam os meus motivos de quer sair. Quando não se ouve as duas versões não sabemos realmente quem é o bom e quem é o mau. Eu não tenho dado muitas explicações por uma questão de respeito, gratidão e de contrato com o clube, porque me ajudou muito num determinado momento. Mas as coisas continuam iguais, não estou a pedir nada de favor, e que sejam meus amigos, estou a pedir o que acho que eu, Pedro, mereço pelo que tenho conquistado como atleta, que para para muitos é insignificante. Então não há problema. Vamos chegar a um acordo e eu vou continuar a fazer a minha vida noutro sítio onde eu possa ser valorizado.

Sem arrependimento de ter escolhido Portugal

RECORD – Em função de tudo o que disse até agora, estar desiludido com o clube, com o país em geral por não o valorizarem, não valorizarem os atletas, pergunto se está arrependido de ter vindo para Portugal quando deixou Cuba?

PP –Não estou arrependido de ter chegado aqui, estou é desiludido com o país por não dar valor a quem é devido. Nós atletas das modalidades damos muita visibilidade a Portugal lá fora, regressamos ao país com a camisola de Portugal, mas chegamos aqui é tudo indiferente. Claro que na rua reconhecem-nos e fico muito contente de tirar fotos…só fico chateado [risos] quando me dizem que faço salto em comprimento… Não nasci cá, mas por exemplo o Fernando Pimenta nasceu. No começo até pensava que era uma questão só comigo ‘ah é cubano’, mas depois comecei a ver que com o Pimenta é igual. Quero ir para outro sítio para continuar a minha vida, tenho que fazer alguma coisa pela minha família. Não posso voltar a Cuba. Tenho três filhas pequenas, que precisam de ir à escola, precisam de seguro de saúde e outras coisas. Se não fizer nada agora, no futuro elas é que vão sofrer. Eu não quero ficar chateado com ninguém e não quer que também fiquem chateado comigo. Não quero que o Benfica e os portugueses me vejam como um ingrato e que digam ‘ah, chegou aqui, já tem os documentos portugueses vai para outro país. Nada disso. Só quero que percebam as minhas razões”.

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