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Jornalista benfiquista dedica texto a Taremi: ‘Ele lixa-me a cabeça’

Mehdi Taremi celebra hat trick na vitória do FC Porto sobre o Arouca

Luís Osório dedicou o seu Postal do Dia desta semana a Mehdi Taremi, avançado do FC Porto.

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O jornalista destaca o paradoxo que encontra no iraniano, lembrando o sentido ético que este revelou ao ser uma das primeiras personalidades a revoltar-se contra o governo do seu país após a morte de uma jovem iraniana, vítima de um espancamento por parte da polícia da moralidade por usar mal o seu véu islâmico.

Por isso, por revelar este sentido ético, Luís Osório, benfiquista assumido, não entende por que motivo Taremi tenta, na sua opinião, enganar os árbitros de forma recorrente, depois do que aconteceu no FC Porto-Arouca.

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Veja o texto no vídeo abaixo.

“Não consigo perceber Taremi

1. Penso vinte vezes antes de escrever sobre futebol.

O mundo dos clubes está tão polarizado e é tão agressivo que, na maior parte dos casos, mais vale estar calado.

Porque, afinal, como alguém escreveu, o futebol é a coisa mais importante entre todas as que não têm importância. Por isso, vou-me encolhendo ao insulto, à ameaça, aos “gajos” que quando se lhes toca no seu Porto, Benfica ou Sporting, parecem reduzir-se a dois ou três neurónios, e estou a ser simpático e benevolente.

2. Só que o postal do dia é sobre atualidade e há momentos em que não posso escapar ao ruído – mesmo que não me apeteça, mesmo que desvalorize, é o que se espera de um espaço de opinião.

Falemos então do jogo FC. Porto-Arouca.

Não propriamente do jogo, não faz sentido comentar o que se passou, os tempos de desconto e a maluqueira à volta dos pontinhos que se ganham e se perdem e de todo o dinheiro envolvido – no entanto, impossível desvalorizar que até ao fim deste campeonato valerá quase tudo porque os clubes estão dependentes do dinheiro da Liga dos Campeões que para o ano só poderá ser alcançada em Portugal pelo campeão e, talvez, não é certo, pelo segundo classificado.

3. Não quero falar sobre o jogo e recuso-me a acreditar que o FC. Porto tenha alguma coisa a ver com a falha de energia que apagou o VAR durante mais de dez minutos.

Por tudo o que significaria essa hipótese não pode estar em equação. O futebol colapsava e o risco seria deprimente. Além do mais, é altamente rebuscado pensar numa tal coisa. A começar pela teia de cumplicidades que seria necessária – do árbitro, de jogadores, de técnicos.

Não faz qualquer sentido.

4. Chego então ao que quero dizer.

Ao que me parece relevante pela falta de desportivismo e respeito por colegas de profissão, pela verdade desportiva, pelo público e pelos miúdos que seguem os futebolistas como se estes fossem o farol.

Falo-te de Taremi.

Um jogador diferenciado, o melhor avançado do FC. Porto e um tipo que teve a enorme coragem de ser uma das primeiras figuras públicas iranianas a revoltar-se contra o governo do seu país

Taremi não ficou calado após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos espancada pela tenebrosa “polícia da moralidade” de Teerão.

Lembro-te: Amini era uma miúda curda com a vida à frente e cometera o “crime” de ter o véu islâmico malposto em plena rua. Foi levada para um lugar sem lugar e agredida até ficar em coma. Morreu três dias depois de ficar sem consciência.

Muitos se calaram, mas Taremi não.

5. Mas é precisamente por isso, por este absurdo paradoxo que me lixa a cabeça, que lhe pergunto:

– Porquê, Taremi?

Como explicar que alguém com um padrão ético tão forte e uma coragem tão grande, possa enquanto atleta tentar enganar o árbitro da maneira como o faz tão recorrentemente?

O país viu-o a cair neste passado domingo.

Viu-o a cair e a virar-se para o árbitro com o gesto de que foi empurrado.

Não consigo entender…

… bem, é claro que percebo a razão, mas deveria ser uma razão tão pequenina para um homem que provou ser grande num cenário infinitamente mais difícil.

6. Serei insultado, ameaçado, é sempre assim com a bola.

Como quando escrevi o quanto abominava Luís Filipe Vieira e uma “máfia” que me parecia ter tomado conta do Benfica.

Ou como quando falei de Bruno de Carvalho, no tempo em que era presidente do Sporting e 90 por cento dos associados nele votavam.

Sim, já fui ameaçado fisicamente por benfiquistas, sportinguistas e portistas. Imaginem o que seria se tivesse algum interesse no futebol para lá do prazer de o ver e de o discutir com amigos de todas as cores.

Mas isto não é sobre futebol, é sobre um paradoxo.

Um homem que é um paradoxo”, escreveu.

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