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Conhecido benfiquista rendido a Taremi: “Não me falem de piscinas ou de penáltis”

Mehdi Taremi celebra um bis na vitória do FC Porto sobre o Moreirense

Luís Osório dedicou o seu espaço de opinião na TSF a Mehdi Taremi, jogador que ultimamente tem sido duramente criticado e acusado de cavar penaltis.

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O jornalista, assumidamente benfiquista, mostrou-se completamente rendido à postura do avançado do FC Porto na luta pelos direitos humanos no seu país, deixando de lado toda a polémica em torno do jogador.

Recorde-se que uma jovem de 22 anos foi espancada pela chamada “polícia da moralidade” pelo simples facto de ter usado incorretamente o hijab para cobrir o seu cabelo, morrendo pouco depois. Tal ato motivou uma onda de revolta por parte das mulheres iranianas que saíram à rua em protesto.

Taremi manifestou-se num jogo particular da sua seleção, ao apresentar-se com um casaco preto sobre a sua camisola, tal como os seus colegas. Mais tarde o jogador de 30 anos deixou uma mensagem nas redes sociais a condenar o sucedido.

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Por todas estas ações e sabendo do risco que corre perante um estado tão repressivo, Luís Osório aplaudiu a postura de Taremi.

Veja abaixo o texto completo.

“1. Por estes dias, um jogador iraniano do FC Porto tem ocupado as primeiras páginas do jornalismo.

Horas de debates televisivos a discutir sobre se Taremi é ou não um ladrão de penáltis.

O presidente da Câmara do Porto chamou idiota a um repórter por este ter ousado fazer uma pergunta ao jogador.

Sérgio Conceição recusou-se a prestar declarações em solidariedade com a perseguição mediática a Taremi.

Nas redes sociais marcaram-se duelos e sessões de cabeçada ao nascer do Sol. Há alucinados à beirinha de um colapso nervoso, de um enfarte ou de um AVC por causa de Taremi – uns porque mergulha e engana os árbitros, outros por estar a ser perseguido por malandros que desejam o mal do Porto.

2. Para muitos, o futebol é uma questão de vida ou de morte.

Mas para Taremi há coisas um bocadinho mais importantes.

O respeito pela vida humana.

A coragem de respeitar a sua consciência.

O valor da solidariedade.

Sim, Taremi tornou-se uma bandeira no protesto contra a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos, espancada às mãos da tenebrosa “polícia da moralidade”.

A rapariga curda cometera um crime terrível: tinha o seu véu islâmico malposto em plena rua. Foi por isso levada para um qualquer lugar e ficou em coma durante três dias.

Amini resistiu três dias.

E após a sua morte as ruas do Irão encheram-se de mulheres em protesto contra um Estado demencial, contra o modo indigno como são tratadas.

Nos protestos morreram mais de trinta pessoas. O regime iraniano, o regime dos “Ayatollah”s”, reprimiu as manifestações.

E tem ameaçado de prisão.

Tem ameaçado de tortura.

Tem ameaçado de morte quem se revolta.

3. Taremi, estrela maior do futebol iraniano, figura amada pelo povo persa, podia estar calado e não fazer comentários, mas não.

Sabendo os riscos que pode correr, sabendo das ameaças à sua própria família, Taremi quis ainda assim prestar solidariedade para com as mulheres do Irão e para com a morte da jovem Amini.

Na sua página de Instagram trocou a sua fotografia por uma imagem do território iraniano coberto de negro.

Influenciou com sucesso outros jogadores a seguirem-lhe o exemplo.

E já antes, no jogo com o Estoril, usara um punho negro em sinal de luto.

4. Alguns que me ouvem ou leem sabem que sou do Benfica.

Um bocadinho doente, confesso.

Entusiasmado com esta época, admito.

Mas não me venham falar dos mergulhos de Taremi – quero lá saber se se faz ao penálti ou não.

O que sei, o que tenho a certeza, é que Taremi é uma pessoa enorme, um homem com uma coragem e uma retidão de princípios que o distingue da maioria.

É muito fácil abrirmos a boca e dizermos umas coisas.

O difícil é arriscar a vida em nome de uma consciência de bem, de uma espinha direita.

Arriscar a vida.

Não ceder às ameaças.

Poder deixar de jogar na seleção, poder colocar em causa a sua família mais próxima, poder ser preso.

5. Taremi sabe que tudo isso passou a ser uma possibilidade.

Porque ele não é um anónimo que se revolta numa rua de Teerão. Ele é uma estrela e um dos mais amados iranianos.

O que ele diz tem consequências.

É por isso que ao defender a jovem Amini, ao atacar a repressão do governo do seu país e a cegueira moral dos “Ayatollah”s”, Taremi sabe que está a arriscar no limite a sua própria vida.

Não me falem de piscinas ou de penáltis.

Ele está para lá disso – Taremi é um homem exemplar, uma pessoa inteira e admirável“, pode ler-se.

6 comentários

  • Luís Osório, pouco interessa aqui o seu clube do coração, ou mesmo o meu. Interessa-me só dizer-lhe: PARABÉNS pela dignidade de todo o seu texto!
    Apetece dizer: senhores jornalistas e comentadores desportivos, ponham os olhos no Luís Osório e esqueçam a clubite aguda!!! Seja SLB, FCP OU SCP (ou outra)!!!
    Antes de se fazer ou não a algum penalti (e pelos vistos o Bruno Varela confirmou que ele, Bruno, cometeu os 2 penaltis), Taremi merece os maiores elogios de todos os democratas e todos os Homens de coragem, retidão e bom senso! Parabéns, Luís Osório!

  • Tretas!!!! Se ele não concorda e se corre assim tantos riscos, simplesmente não jogava a representar o regime desse país. Agora por vestir um casaco preto é um herói???

    • Felizmente, este é um comentário “único”… Há gente para tudo. Daqueles que quando não quer ser sabedor… faz esforço hercúleo para… não saber! Lamentável, mas é assim o mundo em que vivemos!

  • Acho que pela primeira vez na vida (e tenho 72 anos) me comovi com um artigo sobre um jogador de futebol. Parabéns é muito pouco, fiquei sem palavras.

  • Luís Osório, não o conheço, não costumo ler os seus artigos, mas endereço-lhe os meus sinceros parabéns.
    Senti-me emocionado com o seu artigo, onde deixa de fora as tricas do homem desportivo e releva o mais importante da pessoa: a sua enorme coragem, os seus sentimentos, a sua postura vertical
    perante os factos (lamentáveis) inumanos do abominável regime do seu país, que, pelos vistos, não merece o povo que tem.
    Espero que, após esta leitura atenta, quem a leu fique com uma perspetiva do Homem que arrisca a sua vida em defesa do seu semelhante. Sem se lembrar de «piscinas» ou «roubo» de penaltis, coisa que, honestamente, todos deviam compreender como um lado menos bom do profissional, mas igual a muitos outros que pululam em todos os clubes.
    Parabéns, mais uma vez pela sua coragem de separar o Homem do profissional.
    Cumprimentos
    José Cardoso

  • Infelizmente a sociedade tem de albergar um bando de energúmenos toldados pela clubite que acaba por degenerar no facciosismo e no fanatismo futebolístico. Oxalá não tenhamos dentro de casa aquilo que recentemente vimos na Indonésia (já vi isso mais longe…).
    Sempre fui benfiquista, desde tenra idade, fui sócio, mas sei reconhecer os exageros que se apoderaram do desporto (não só do futebol). E hoje tenho de dizer que “SOU TAREMI!”
    Por detrás de qualquer profissão está um homem/mulher e, felizmente, o Taremi deu mostras do seu carácter e dignidade pela vida humana, assim como uma lição a todo o mundo sobre valores que devem nortear a Humanidade, mas que infelizmente vão desaparecendo.
    Apelo àqueles que sofrem de uma doença (cada vez mais crónica) chamada “clubite”, sejam verdes, azuis, vermelhos, laranjas, aos quadrados, ou às riscas, reflitam sobre a atitude do Taremi, principalmente se aquilo que aconteceu a Mahsa Anini tivesse sido com o vosso filho(a) ou qualquer familiar.
    Não vale tudo! (pelo menos não deveria …)

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