Luís Osório dedicou um texto a Pepe, após o triunfo de Portugal diante da Turquia, que garantiu o apuramento para os oitavos de final do Euro 2024.
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O jornalista resolveu escrever sobre o amor do central, nascido no Brasil, que considera ser mais forte do que muitos portugueses.
Luís Osório realça o facto de Pepe, aos 41 anos, continuar a jogar ao mais alto nível diante dos turcos e com uma vontade impressionante, tendo em conta tudo o que já conquistou na sua brilhante carreira.
Ainda assim, apesar de muitas provas, o jornalista nota que alguns portugueses insistem em desconfiar do defesa. Mas para Luís Osório, a capacidade de superação de Pepe deve-se a tudo o que passou na infância no Brasil, de onde saiu aos 18 anos para jogar no Marítimo.
Luís Osório lembra que o amor de Pepe por Portugal começou assim que pisou o solo nacional. Com apenas cinco euros no bolso, Pepe tomou a decisão de telefonar à sua mãe para não a preocupar acabando por ficar sem dinheiro para poder comer. De lágrimas nos olhos, o então jovem central pediu a um funcionário da Pans and Company para lhe dar algo para comer. O funcionário ausentou-se por uns momentos e voltou com duas sandes e uma bebida, sem pedir nada em troca.
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Foi a partir desse momento que Pepe desenvolveu um amor sem igual pelo nosso país que representa com todo o orgulho e dedicação.
Veja o texto completo abaixo.
“A razão que levou Pepe a amar este país mais do que muitos portugueses
1.
Pepe tem 41 anos e acaba de fazer um jogo monstruoso contra a Turquia.
Continua a ser titular na seleção portuguesa. E continua a superar, jogo a jogo, campeonato a campeonato, os limites do corpo e da compreensão de treinadores e cientistas ligados à fisiologia desportiva.
Como jogador ganhou tudo o que poderia ser ganho.
Não tem bolas de ouro como Cristiano, mas foi o melhor jogador português no Europeu que conquistámos numa cidade de Paris que, por uma vez, foi a cidade em que fomos nós a ditar as regras.
Ganhou ligas dos campeões.
Campeonatos.
Somou internacionalizações.
E continua a ser um exemplo para os mais jovens e a levantar-se todos os dias com a ideia de melhorar, de estar à altura, de provar que não deve nada aos miúdos.
2.
Ainda há portugueses que dele desconfiam.
Ouvi até gente que colocou em causa se Pepe devia ou não ser ainda convocado para a seleção.
Para alguns nada é suficiente.
Para outros, Pepe é brasileiro.
Ou é mauzinho como as cobras.
Ou devia dar lugar aos novos.
Ou isto e aquilo.
Mas talvez não se entenda bem quem é este monstro competitivo que terminou a jogar o último jogo de Portugal no mundial com um braço partido.
Quem é, de onde veio, por que raio canta o hino português com tal fervor ou qual a razão para, desde o primeiro momento, ter feito o esforço para falar sem o açúcar com que os brasileiros tão bem tratam a língua portuguesa.
3.
Talvez alguns não saibam que Pepe é mesmo português.
Dentro de si, dentro do mais profundo que nele habita, o nosso país representa a felicidade que ele nunca imaginou ser possível.
Sabem, o Pepe veio sem nada do Brasil.
Jogava à bola numa pequena equipa de Alagoas, tinha 17 anos e habituara-se a sobreviver. Sempre com medo que a mãe sofresse, a Dona Rosilene com quem o Pepe dormiu até vir para Portugal prestar provas na equipa secundária do Marítimo.
Dormiam numa casa pobre, não havia duas camas, Pepe habituou-se a ser mimado pela mãe que o tratava como se fosse um eterno menino, um menino da mamã.
4.
Pepe esperou fazer os 18 anos e voou para o Funchal com um bilhete que o clube lhe enviou.
Não tinha dinheiro.
Trazia na mão o correspondente a cinco euros.
E no aeroporto de Lisboa, à espera da escala para o Funchal, pensou que se telefonasse à mãe não podia comer nada. Mas se comesse alguma coisa já não podia telefonar à mãe.
O Pepe não teve nenhuma dúvida.
Telefonou à Dona Rosilene.
Choraram os dois, prometeram os dois – ele que conseguiria ganhar para a ajudar e ela que conseguiria viver muitos anos para assistir às suas vitórias.
A chamada para o Brasil demorou pouco tempo.
A cabine engoliu-lhe as moedas.
E o Pepe estava cheio de fome.
Aproximou-se então de um rapaz que trabalhava no Pans and Company.
Muito tímido, quase a medo, perguntou se podia comer um pão. O rapaz não compreendeu logo, perguntou-lhe qual queria, havia para todos os gostos.
O Pepe, de lágrimas nos olhos, respondeu-lhe que não tinha dinheiro, mas que estava cheio de fome.
O rapaz desapareceu no balcão e regressou com duas baguetes e uma bebida, sem mais perguntas, só com um sorriso e o desejo de boa-sorte.
5.
A partir desse dia, Pepe quis pagar ao país pela generosidade com que foi recebido.
A partir desse dia quis falar como os portugueses.
Saber o hino.
Saber da história de Portugal.
Fazer amigos, família, recomeçar.
A partir desse dia decidiu que era aqui que desejava viver para sempre.
E foi a partir desse episódio que Pepe, talvez o melhor defesa da história do futebol português, encontrou forças para se transcender, para ganhar, para se cumprir.
E é a esse momento que regressa sempre que as forças lhe faltam.
O que ninguém nota.
Mesmo que tenha 41 anos de idade, ninguém nota.
Obrigado, Pepe“.
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