Nani, um dos jogadores mais talentosos a sair da academia do Sporting, tem recordado ao longo dos anos a influência de Paulo Bento no seu percurso desportivo. De acordo com o jornal Record, o treinador, conhecido pelo rigor e atenção ao detalhe, desempenhou um papel crucial na transição de Nani dos escalões de formação para o futebol profissional.
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Segundo o Record, Paulo Bento foi um dos responsáveis por moldar a mentalidade competitiva de Nani, desafiando-o a superar-se em cada treino e jogo. O jornal cita episódios marcantes dessa relação, em que o treinador exigia pontualidade e empenho máximos, estabelecendo um padrão que Nani levou consigo ao longo de toda a sua carreira.
"Paulo Bento foi um dos treinadores que foram mesmo muito importantes na minha carreira. Comecei com ele nos juniores do Sporting e temos muitas histórias. Quando éramos juniores, tínhamos de apanhar o comboio e o metro para chegar ali até ao Campo Grande e tínhamos autocarro do Sporting que nos levava até Alcochete. Tínhamos uma hora certa para estarmos ali. Bastava chegar um minuto atrasado que o autocarro arrancava. Uma vez cheguei uns 30 segundos atrasado, estava a ver o autocarro a ir à minha frente e eu começo a correr atrás do autocarro, a fazer sinais para os meus colegas e eles a dizerem-me adeus. Era o Sr. Hilário [quem conduzia]. Ele normalmente dizia: 'A caravana partiu'. Então, eu disse para mim 'Ai é?', então fui até à praça de táxis e meti-me dentro de um. Só disse: 'Alcochete'. O táxi chegou lá e eu disse-lhe: 'Olhe, espere só aqui um bocadinho que eu não tenho aqui dinheiro e vou ali pedir ao míster'. Fui ter com o míster Paulo Bento e expliquei-lhe: 'Míster, eu cheguei 30 segundos atrasado. O autocarro estava mesmo ali, mas eles não esperaram por mim e eu tinha de vir treinar'. E ele: 'Ai é? Pronto, está bom...' Só que eu disse-lhe: 'Mas agora está ali o táxi e tem que se pagar'. Perguntou-me quanto é que era, tirou um maço de notas e deu-me o dinheiro", começa por contar.
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"Na semana seguinte, aconteceu-me a mesma coisa. Atrasei-me outra vez e tive de apanhar o táxi outra vez. 'Míster, atrasei-me outra vez e tive de vir de táxi'. E ele responde: 'Outra vez? Tu andas a brincar com isto. Vá, pega. Paga lá isso. Vais ter de me pagar um jantar!'. E eu: 'Com certeza, eu pago sim senhor'. Foi uma das coisas que ficaram entaladas na altura. Íamos para os jogos e quando eu não jogava bem ele estava sempre a cascar em mim. Depois, um dia, já depois de acumular tantas histórias ali no Sporting, estávamos na fase final do campeonato e íamos jogar contra o Benfica. Mas eu andava a jogar um torneio de futsal mais um amigo. Nós saímos dos treinos a correr e íamos para Torres Vedras para jogar o torneio. Eu era o melhor marcador, então tinha de ir jogar. Só que descobriram. O míster Leonel [Pontes] descobriu e depois foi dizer ao míster Paulo Bento. Chega a meio da semana e ele [Leonel Pontes] fala connosco. 'Então, por onde é que vocês andam?' 'Nós, míster? Nós acabamos o treininho e vamos direitinhos para casa'. 'Não, vocês não me vão mentir. Nós sabemos perfeitamente onde vocês andam, já nos informaram de tudo e o míster Paulo Bento quer falar com vocês'. Foi então que fomos falar com o míster Paulo Bento. 'Isto é assim, eu nem vou falar com a direção porque se eu falar com eles nem tem conversa. Já foste, mala, ok? Vou ser eu quem vai falar contigo. Sabes porquê? Porque eu acredito em ti. No fim de semana, eu não quero que pegues na bola e fintes todos e marques golos. Ai de ti que não corras mais que os teus colegas. Se não correres, sou eu mesmo quem te vai mandar para casa, nem pões aqui mais os pés", acrescentou.
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Mas Nani viria posteriormente a pagar a dívida.
"Chegou o dia do jogo, o Benfica bastava-lhe empatar que era campeão. A primeira parte acaba 1-0 [a favor do Benfica], então era eu e os meus colegas a discutir no balneário. Chega o míster e começa a gritar: 'Calou, calou'. Vira-se para mim e diz: 'O quê que tu já ganhaste, pá? Quem és tu, pá? Caluda!'. Ele veio todo nervoso para cima de mim, então pensei que ele ia tirar-me do jogo. Mas depois disse-me: 'Tu vais calar a boquinha, vais lá para dentro, vais resolver o jogo para os teus colegas, vais jogar bem e vamos sair daqui com uma vitória, senão estás lixado comigo'. Fomos para dentro, ele ajustou-me na posição, enervei-me - porque não gostei daquele grito -, fiz umas assistências e no final ganhámos 4-1. No final do jogo, olhei para o míster, ele olhou para mim e levantámos o míster. 'Míster, aquele táxi já está pago'", concluiu.
Essa exigência foi particularmente importante quando Nani começou a destacar-se na equipa principal do Sporting, atraindo a atenção de grandes clubes europeus. A transferência para o Manchester United, em 2007, foi vista como o culminar de um percurso exemplar de formação e desenvolvimento desportivo.
O jornal destaca ainda que Nani sempre reconheceu a importância do Sporting e dos treinadores que encontrou no clube, incluindo Paulo Bento, para o seu sucesso a nível internacional.