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13/12/25 às 12:18

Justiça fecha o cerco ao caso W52-FC Porto: prisão efectiva para antigos responsáveis apesar das negações

O caso de dopagem que abalou o ciclismo português nos últimos anos conheceu esta sexta-feira um desfecho judicial de enorme impacto.

Adriano Quintanilha, antigo patrão da W52-FC Porto, e Nuno Ribeiro, então director desportivo da equipa, foram condenados a penas de prisão efectiva de quatro anos e nove meses, no âmbito do processo que investigou um esquema de dopagem organizado entre 2020 e 2022.

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Segundo revelou o Jornal de Notícias, o colectivo de juízes, presidido por Pedro Vaz, deu como provados praticamente todos os factos constantes da acusação do Ministério Público, considerando que existiu um plano estruturado e continuado para o recurso sistemático a substâncias proibidas numa equipa que dominou o ciclismo de estrada profissional em Portugal durante várias temporadas.

Na leitura da sentença, o tribunal foi claro quanto às responsabilidades dos principais arguidos. Adriano Quintanilha foi considerado o cérebro do esquema, tendo “engendrado o plano inicial” para a aquisição das substâncias ilícitas. O financiamento desse plano era assegurado pelo próprio, em articulação directa com o contabilista da equipa, Hugo Veloso, que também foi condenado no processo.

Já Nuno Ribeiro, ex-ciclista profissional e então director desportivo, foi identificado como uma peça central na operacionalização do esquema. De acordo com o tribunal, era ele quem colocava as substâncias dopantes à disposição dos ciclistas, fornecia instruções detalhadas sobre a sua utilização e indicava “técnicas para diminuir as possibilidades” de detecção nos controlos antidopagem. “Passava tudo” por Nuno Ribeiro, sublinhou o juiz presidente, classificando-o como “um dos elementos fundamentais do esquema”.

Apesar da gravidade dos factos, o tribunal não deu como provado que Adriano Quintanilha ou Nuno Ribeiro tenham coagido directamente os ciclistas a consumir as substâncias proibidas. Ficou assente que não abusaram da sua ascendência hierárquica para obrigar os atletas a dopar-se, uma distinção que, ainda assim, não foi suficiente para evitar penas de prisão efectiva. Para o colectivo de juízes, “a gravidade dos factos não permite suspender as penas” aplicadas aos dois principais responsáveis.

Situação diferente teve Hugo Veloso, contabilista da equipa, que foi condenado a uma pena de três anos e quatro meses de prisão, mas com suspensão da execução. O tribunal decidiu igualmente suspender as penas aplicadas aos ciclistas envolvidos, considerando-os “o elo mais frágil desta cadeia de ligação ao doping”, reconhecendo um contexto de dependência e fragilidade face à estrutura directiva. Dois arguidos ligados a farmácias associadas ao esquema acabaram absolvidos por falta de prova suficiente.

Este acórdão representa um marco no combate à dopagem em Portugal, não apenas pela severidade das penas aplicadas, mas pelo reconhecimento judicial de um esquema organizado ao mais alto nível de uma equipa de referência. O caso W52-FC Porto deixa uma mancha profunda na história recente do ciclismo nacional e reforça a necessidade de mecanismos de fiscalização mais eficazes e independentes.

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Apesar de Adriano Quintanilha continuar a negar qualquer envolvimento e de Nuno Ribeiro contestar a versão dos factos, a decisão do tribunal é clara: houve responsabilidade directa, planeamento e execução de práticas proibidas que atentaram contra a verdade desportiva.