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Nacional
02/05/25

Neste dia Benfica sagrava-se bicampeão europeu em 1962

O Benfica conquistou a Taça dos Campeões Europeus pela segunda vez consecutiva a 2 de maio de 1962. Saiba mais.

O Benfica conquistou a Taça dos Campeões Europeus pela segunda vez consecutiva a 2 de maio de 1962, ao derrotar o poderoso Real Madrid por 5-3 no Estádio Olímpico de Amesterdão . Nessa noite histórica, perante mais de 60 mil espectadores, os encarnados revalidaram o título europeu num duelo electrizante com oito golos , infligindo aos madrilenos a sua primeira derrota de sempre numa final da competição. Eusébio, o jovem avançado de 20 anos, foi a grande figura ao marcar dois golos decisivos, ofuscando o hat-trick de Ferenc Puskás e confirmando o Benfica como bicampeão europeu. 

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Contexto histórico do embate 

A final de 1962 colocou frente a frente o passado e o futuro do futebol europeu. De um lado estava o Real Madrid – vencedor das primeiras cinco edições da Taça dos Campeões (1956-1960) e ainda considerado o “mestre” do futebol europeu – e do outro o Benfica, a emergente potência portuguesa que surpreendera a Europa ao conquistar o título em 1961 . Treinados pelo carismático húngaro Béla Guttmann, os encarnados haviam derrotado o Barcelona por 3-2 na final anterior, em Berna, abrindo a era pós-hegemonia madrilena . A conquista de 1961 deu ao Benfica o estatuto de campeão em título e preparou o cenário para um confronto épico em Amesterdão contra os experientes astros do Real, Alfredo Di Stéfano e Ferenc Puskás, já veteranos (35 e 37 anos, respectivamente) mas determinados a reconquistar o cetro europeu. Do lado benfiquista, despontava uma nova geração liderada por Eusébio, o talentoso avançado nascido em Moçambique que começava a dar que falar internacionalmente, bem secundado por Mário Coluna, José Águas, José Augusto, António Simões, entre outros. 

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O percurso até à final de Amesterdão 

Para atingir a final da sétima edição da prova, o Benfica teve de ultrapassar adversários de peso em sucessivas eliminatórias. Na primeira ronda afastou o Áustria Viena (6-2 no total) e nos quartos-de-final eliminou os alemães do Nuremberga, com uma reviravolta notável – depois de perder 3-1 na Alemanha, goleou por 6-0 em Lisboa . Nas meias-finais, a equipa da Luz defrontou o campeão inglês Tottenham Hotspur e venceu por 3-1 na Luz, garantindo a qualificação apesar da derrota 2-1 em Londres (4-3 no agregado) . Já o Real Madrid iniciou a campanha eliminando os húngaros do Vasas na pré-eliminatória e esmagando os dinamarqueses do Boldklubben 1913 por um total de 12-0 na primeira ronda. Nos quartos-de-final, os madridistas tiveram de suar para superar a Juventus, só conseguindo o apuramento num jogo de desempate em Paris (vitória por 3-1 após igualdade nas duas mãos) . Embalado por essa vitória, o Real chegou às meias-finais e demoliu o Standard de Liège com um agregado de 6-0 (4-0 em Madrid, 2-0 na Bélgica) , garantindo o regresso à final europeia após um ano de ausência. 

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A final: uma chuva de golos e reviravoltas 

Cerca de 61 mil adeptos lotaram o Estádio Olímpico de Amesterdão para assistir à final Benfica vs. Real Madrid em 1962, um dos jogos mais memoráveis da história da competição.  

A grande final de Amesterdão correspondeu a todas as expectativas, brindando os adeptos com um espetáculo de alto nível e constantes reviravoltas. O Real Madrid entrou melhor e, impondo a sua experiência, adiantou-se no marcador logo aos 17 minutos por Ferenc Puskás. O avançado húngaro, lenda viva merengue, voltou a marcar aos 23 minutos – num potente remate de fora da área – colocando o resultado em 2-0 para os espanhóis . Parecia o prenúncio de uma noite de glória para o Real, mas o Benfica reagiu de forma fulminante. Apenas dois minutos após o segundo golo madrileno, o capitão José Águas reduziu para 2-1 de cabeça aos 25 minutos , devolvendo a esperança aos encarnados. A resposta lusitana continuou e, aos 34 minutos, Domiciano Cavém fez o empate 2-2 com um remate cruzado, aproveitando uma defesa incompleta do guarda-redes Araquistáin. O jogo estava eletrizante e cheio de alternâncias. Antes do intervalo, aos 38 minutos, Puskás completou o hat-trick ao surgir livre de marcação e desferir novo remate certeiro – 3-2 para o Real Madrid . Era já o segundo hat-trick de Puskás em finais europeias (repetindo a proeza de 1960) e fazia dele o único jogador a marcar três golos em duas finais da Taça dos Campeões . Contudo, nem mesmo esse feito extraordinário do craque húngaro seria suficiente nesta noite, como se viria a comprovar. 

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No início da segunda parte, Guttmann ajustou a estratégia do Benfica: o técnico mandou um defesa fazer marcação cerrada a Di Stéfano, cortando o “abastecimento” a Puskás e travando o cérebro do ataque madrileno . A alteração surtiu efeito. O Real, que até então dominara através do seu duo veterano, começou a perder fulgor físico, enquanto o Benfica – mais jovem e rápido – assumiu o controlo das operações . Aos 51 minutos, o domínio encarnado traduziu-se no empate 3-3: Mário Coluna, dono do meio-campo, desferiu um forte remate de longe e bateu o guarda-redes espanhol, igualando de novo o marcador . O “Monstro Sagrado” (apelido de Coluna) já marcara na final de 1961 e repetia a façanha em Amesterdão, demonstrando classe e liderança dentro de campo. A partir daqui, a equipa portuguesa empolgou-se e carregou sobre um Real Madrid em quebra. 

Aos 64 minutos de jogo, surgiu o momento de génio de Eusébio. O avançado benfiquista arrancou em velocidade e foi travado em falta dentro da área adversária, conquistando uma grande penalidade. Chamado a converter, o próprio Eusébio assumiu a responsabilidade e, dos 11 metros, bateu Araquistáin sem tremer – 4-3 para o Benfica . Era a primeira vez na noite que os encarnados estavam em vantagem, para delírio dos milhares de adeptos portugueses presentes em Amesterdão. Cinco minutos depois, aos 69’ (65’ em algumas fontes, devido a pequenas discrepâncias no cronómetro), Eusébio bisou, consolidando de vez a vitória encarnada. Numa cobrança de livre direto próximo da meia-lua, Coluna tocou curto para o jovem moçambicano e este disparou um tiro imparável – a bola passou rasante por Alfredo Di Stéfano, que tentava intercetar, e entrou junto ao poste, escapando às luvas do guarda-redes espanhol . A lenda conta que Eusébio pediu educadamente a Coluna para lhe tocar a bola nesse livre – “Passa-me para eu rematar” –, e o veterano médio acedeu ao pedido do pupilo . O resultado foi um remate de tal força e colocação que selou o 5-3 no marcador, colocando um ponto final na resistência madrilena. 

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Apito final e heróis encarnados 

Quando o árbitro Leo Horn apitou para o final, a festa tomou conta do relvado e das bancadas. Os jogadores do Benfica abraçaram-se efusivamente em celebração, enquanto, num contraste marcante, Alfredo Di Stéfano deixava o relvado cabisbaixo , ciente de que o reinado europeu do Real Madrid chegara ao fim naquela noite. O jovem Eusébio, autor de dois golos e uma exibição memorável, tornou-se instantaneamente numa estrela de dimensão internacional – a imprensa da época destacou o surgimento de um novo fenómeno do futebol mundial, apelidando-o de “Pantera Negra” pela sua explosão atlética e faro de golo. Já Puskás, apesar de ter marcado um hat-trick, viu os seus esforços inglórios valorizados pelo gesto de desportivismo no final: o veterano astro húngaro fez questão de trocar de camisola com Eusébio, correndo para oferecer a sua camisa branca ao jovem avançado de camisola vermelha . A simbólica troca de camisolas foi interpretada como a passagem de testemunho entre duas eras – do velho Real Madrid pentacampeão para o novo bicampeão Benfica, e do consagrado Puskás para o emergente Eusébio. Na equipa encarnada todos foram heróis: José Águas, o capitão, voltou a marcar numa final europeia e ergueu a taça; Coluna dominou o meio-campo e também inscreveu o seu nome nos marcadores; Cavém foi decisivo com o golo do empate ainda na primeira parte; e jogadores como José Augusto, Simões, Germano ou Costa Pereira (guarda-redes) contribuíram para uma exibição colectiva de enorme qualidade. Béla Guttmann, o arquitecto desta equipa, sagrou-se bicampeão europeu como treinador e entrou também para a história – foi dele a visão táctica e a audácia de lançar jovens talentos (Eusébio tinha chegado ao plantel principal apenas meses antes) que permitiram ao Benfica destronar o gigante espanhol. 

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Impacto e legado no futebol europeu 

A vitória do Benfica por 5-3 marcou o fim da hegemonia inicial do Real Madrid na Taça dos Campeões e provou que outra potência emergira para disputar a supremacia do futebol europeu. Pela primeira vez em seis finais, o Real Madrid saía derrotado no jogo decisivo da principal competição de clubes , abrindo espaço a uma nova ordem. O Benfica, ao conquistar o troféu em anos consecutivos, tornou-se apenas o segundo clube bicampeão europeu (depois do próprio Real) e consolidou-se como referência internacional nos anos 60. A final de Amesterdão de 1962 é frequentemente recordada como uma das mais emocionantes de sempre, pelo número de golos e qualidade dos intervenientes, permanecendo até hoje no imaginário do futebol mundial. A equipa madrilena, baseada numa geração dourada em final de carreira, ainda voltaria à final em 1964 (já sem Di Stéfano) e conquistaria mais um título em 1966, mas aquela noite de 1962 simbolizou o ocaso do seu primeiro grande ciclo. Por outro lado, o Benfica continuou a chegar longe na Europa nos anos seguintes – disputou outras três finais da Taça dos Campeões na década de 60 – confirmando a sua posição entre a elite. Contudo, nenhum outro triunfo europeu se seguiu para as águias, dando lugar a um mito que perdura há décadas. 

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A origem da maldição de Béla Guttmann 

Apesar do sucesso estrondoso, o final da época de 1962 trouxe um desentendimento fatal entre Béla Guttmann e a direcção do Benfica. O treinador húngaro, após conquistar duas Taças dos Campeões Europeus seguidas, pediu um aumento salarial como prémio pelo feito inédito – 65% de aumento, segundo registos da época . A direcção recusou a proposta, o que levou Guttmann a sair abruptamente do clube no verão de 1962, ressentido pela falta de reconhecimento financeiro. Reza a lenda que, ao despedir-se, Guttmann lançou uma maldição sobre o Benfica, proclamando palavras que ecoariam pelos anos: “Sem mim, nem daqui a cem anos uma equipa será bicampeã europeia e o Benfica jamais ganhará uma final europeia” . Essa frase, verdadeira ou não (há quem defenda tratar-se de um mito urbano), ficou conhecida como a “Maldição de Béla Guttmann”. Infelizmente para os adeptos encarnados, o vaticínio tem-se confirmado de forma arrepiante. 

Desde então, o Benfica voltou a várias finais europeias, mas perdeu-as todas, alimentando a crença na maldição. Após Amesterdão, os encarnados atingiram cinco finais da Taça dos Campeões Europeus nas décadas seguintes – 1963 (derrota 1-2 com o AC Milan), 1965 (0-1 com o Inter Milão), 1968 (1-4 frente ao Manchester United, após prolongamento), 1988 (0-0 frente ao PSV, derrota nos penáltis) e 1990 (0-1 com o AC Milan). Também disputaram duas finais da Taça UEFA/Liga Europa mais recentemente: em 1983 (derrota ante o Anderlecht, em duas mãos), 2013 (1-2 com o Chelsea) e 2014 (0-0 vs. Sevilla, derrota nos penáltis). No total, são oito finais europeias perdidas pela equipa principal desde 1962, um impressionante registo negativo que coincide com a alegada maldição . Ao longo dos anos, não faltaram tentativas de “quebrar o feitiço”. Antes da final da Taça dos Campeões de 1990 (disputada em Viena, cidade onde Guttmann está sepultado), Eusébio – que nessa altura era dirigente no Benfica – foi rezar à campa de Guttmann e pedir o fim da maldição, numa cena simbólica de apelo quase sobrenatural . Ainda assim, o Benfica perdeu essa final por 1-0. Em 2014, pouco antes de duas finais europeias consecutivas, o clube inaugurou uma estátua em homenagem a Béla Guttmann junto ao Estádio da Luz, como gesto de reconciliação e tentativa de afastar o azar . Porém, nem isso impediu que as finais da Liga Europa de 2013 e 2014 também terminassem em desilusão para as águias . Verdade ou coincidência, a maldição de Guttmann entranhou-se no folclore do futebol e no imaginário benfiquista – um contraponto quase místico à grandeza das conquistas de 1961 e 1962. 

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Passados mais de 60 anos desde a final de Amesterdão, o feito do Benfica de Eusébio, Coluna, Águas e companhia permanece singular. Aquela vitória por 5-3 sobre o Real Madrid não só definiu um momento alto do futebol português e europeu, como também deu origem a uma das lendas mais famosas do desporto-rei. Enquanto os adeptos encarnados continuam a sonhar com o fim da “maldição” e a conquista de um novo troféu europeu, a noite mágica de 1962 vive para sempre na memória, recordando uma época dourada em que o Benfica foi, literalmente, rei da Europa

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