Em entrevista ao Adeptos de Bancada, Cristóvão Carvalho deixa críticas a Rui Costa, nomeadamente no que diz respeito às valores gastos no reforço da equipa e a inação do Benfica perante a Liga e a FPF, mesmo sendo prejudicado.
Veja também: A venda de craque da formação que Cristóvão Carvalho não perdoa a Rui Costa
O candidato à presidência encarnada revelou ainda os seus planos para o futebol feminino e sugere uma reestruturação das modalidades.
O voto eletrónico também foi tema quente abordado.
AB: Como viu o alto investimento do Benfica neste mercado de transferências? Considera ter-se tratado de uma manobra populista a pensar nas eleições ou era algo que a equipa precisava para ser competitiva perante os rivais?
CC: Foi uma necessidade. O Benfica precisou de vender jogadores e, obviamente, necessitou de comprar reforços que foram completamente desajustados a nível de preço. Essa é uma manobra manifestamente eleitoralista do atual presidente Rui Costa. Os benfiquistas percebem isso. Está a tentar sobreviver na direção do clube através das emoções dos sócios. Como tem os meios do Benfica para o fazer, apostou tudo até ao limite. Porque se não ganhar não terá de resolver o problema financeiro. Se ganhar acha que pode resolver o problema nos próximos quatro anos. Mas a verdade é que ele pode não ter esse tempo porque as contas do Benfica, apesar de positivas, tal deve-se à venda de jogadores. Mas o problema é o dinheiro na tesouraria que não há. E esse é um problema financeiro grave para o Benfica que com estas contratações tem tudo para se agravar, o que nos preocupa muito.
A nível de jogadores, o Benfica tem a melhor equipa. No ano passado também tinha e não ganhou, tal como no ano anterior. Ganha-se com continuidade e estabilidade. A última vez que o Benfica foi campeão foi há dois anos. Sabe quantos jogadores restam dessa equipa? Restam três. Estou certo que os sócios estão atentos e não esquecem o passado do presidente Rui Costa e daquilo que não conseguiu fazer e que dêem confiança a projetos novos como o meu.
Veja também: Estratégia de Félix para o caso das fotos íntimas de Margarida Corceiro dá que falar
AB: Como tem visto este arranque de temporada do Benfica, tanto ao nível de resultados como a nível exibicional?
CC: O Benfica tem uma equipa nova, não está rotinada, veio de um Mundial de Clubes que não descansou, não teve pré-época. O Benfica não se soube impor às instituições, fazem tudo o que querem do Benfica e o clube aceita. Um clube como o Benfica, que vai ao Mundial de Clubes, não tem de conversar com as entidades e criar um defeso de descanso para os seus jogadores? São absolutamente incompetentes.
É óbvio que a equipa está cansada e além disso fez-se uma rotatividade brutal de jogadores e obviamente que a equipa tenta encontrar o seu espaço. Não há milagres. Por isso temos uma grande oscilação exibicional. Sabendo que o Benfica entrava logo numa pré-eliminatória da Champions, o clube não fez bem o seu trabalho e anda a reboque de tudo. O Benfica tem muitos mais jogos do que os seus adversários, não descansou tanto como os seus adversários diretos.
Em que condições estarão os jogadores nos meses de fevereiro e março? Se perdermos o campeonato será por manifesta incompetência na preparação da pré-época, porque os nossos jogadores vão estar em piores condições do que os nossos adversários. Mesmo com equipas mais fracas a nível de jogadores vão conseguir superar-nos. Vem aí o jogo com o FC Porto que vai ser sintomático mas esses jogos grandes não me preocupam. O que me preocupam são os outros porque há uma falta de ritmo com os jogadores novos.
Se o Benfica foi representar Portugal ao Mundial de Clubes, não é possível exigir-se ao Benfica o que se exige aos outros clubes. O Sporting não esteve lá, teve um mês e tal de pré-época, os jogadores descansaram mais de um mês. Isto é igualdade desportiva? Os clubes entraram todos no campeonato na mesma condição? O Benfica não se soube salvaguardar.
Veja também: João Mário de saída do Besiktas um ano depois
AB: Como será a relação do Benfica com a Liga e a FPF? Calculo que seja diferente do que com Rui Costa.
CC: Graças a Deus. Já percebemos que não é assim que se lida com as instituições. Eu não venho aqui para fazer amigos. Venho aqui para defender os interesses do Benfica. Não venho aqui para pôr os interesses do Benfica à frente dos outros clubes. Faz-se de forma institucional e respeitosa e não por amiguismo, compadrio, esquemas. Vou exigir que os direitos do Benfica sejam respeitados, seja onde for. Se não forem respeitados, tem de se ver com o Benfica. Quem pisar o risco vai-se a ver comigo. Neste momento há claramente no poder muitas pessoas ligadas a um clube. O problema é que o Benfica não conseguiu acautelar isso. Se o clube for prejudicado, tem de reagir. E o que é que faz o Benfica? Nada. Ou então cala-se. Isto não pode acontecer no Benfica. Está a ser claramente ultrapassado.
Não pode transparecer para os sócios que o benfica não ganha por razões exteriores. Essas instituições têm de perceber que estão a funcionar mal e vou dar-lhe um exemplo. Daqui a um ano só será possível uma equipa entrar diretamente na Liga dos Campeões. Como é que a Liga e a FPF perimitiram que isso acontecesse ao futebol português? Isto vai atrasar ainda mais o futebol português, contribuir para piorar o espetáculo. Estas instituições nada fizeram. Onde é que está a defesa dos interesses do Benfica na UEFA e na FIFA? Vou confrontar estas entidades com isso. Portugal tem de ter no mínimo duas equipas a entrar diretamente na Champions. Para poder elevar o futebol português. O Benfica não quer estar sozinho nesta luta, quer ter competitividade e adversários fortes porque precisamos de vender esse espetáculo. O Benfica não joga bem sozinho. Não queremos nivelar o nosso futebol por baixo. Da mesma forma que quero um Benfica grande, também quero um futebol grande e essas instituições não o contribuíram para isso.
Veja também: Jota Silva perto de ter novo clube após transferência falhada para o Sporting
AB: Consigo na presidência, o Benfica volta a sentar-se à mesa das negociações sobre a centralização dos direitos televisivos?
CC: No dia a seguir que eu entrar no Benfica. Não consigo liderar nada nem defender os interesses do meu clube se estiver fora do processo. Não quer dizer que concorde com o processo. Isso é outra coisa. É claro que não concordo. Tenho a plena convicção de que tudo o que foi pensado até agora para a centralização dos direitos televisivos, não vai para a frente. Nem o decreto-lei porque já não se adequa, nem a proposta apresentada pela Liga vai para a frente porque está com pressupostos completamente errados, nem me importa nada se há um conluio da Sport TV com as operadoras.
Tenho de estar como benfiquista dentro desse processo e tenho de apresentar propostas nessa matéria que sejam diferenciadas dos outros clubes. Nunca vou aceitar estar num processo onde aquilo que me impõem como benfiquista e presidente do Benfica é que o clube não pode receber menos do que aquilo que já recebia.
Em última instância, o Benfica, face à sua dimensão e face ao meu projeto para esta matéria, provavelmente terá de ficar com todos os jogos e ser o benfica a negociar todos os jogos numa plataforma sua ou com um parceiro quer nacional quer internacionalmente. Porque a solução que está implementada não resolve os problemas e não posso permitir que o clube saia altamente lesado.
A solução atual passa pela divisão dos valores, maiores para determinados clubes. Para que eles, pergunto, façam o quê com esse dinheiro? Vão comprar jogadores? Não pode, porque senão há alteração da verdade desportiva. Vão investir em infraestruturas? Para que haja melhores espetáculos, melhores estádios. Muito bem. Daqui a quanto tempo é que as infraestruturas estarão disponíveis? Daqui a 3,4,5 anos. E durante esse tempo, como é que o Benfica sobrevive? E depois coloca-se outra questão. Têm infraestruturas espetaculares mas não têm dinheiro para comprar jogadores. Ficamos com ótimos estádios mas não temos atores. O meu clube recebe 40 a 50 milhões de euros em direitos televisivos e eu vou abdicar desse valor? Não faz sentido. Provavelmente terei que propor que seja o Benfica a gerir todo esse processo até que haja um entendimento e uma solução justa para todos. A atual direção deixou para a futura direção a negociação dos últimos dois anos que faltam dos direitos televisivos. Nesse aspeto Rui Costa esteve bem.
Veja também: Rúben Neves arrasa revista após foto polémica com viúva de Diogo Jota
AB: Como será a relação com a arbitragem?
CC: Tenho de ter uma relação institucional. Se faz o trabalho bem feito muito bem. Caso contrário, o Benfica tem de falar. Não pode ficar escondido atrás de comunicados, nem de meias conversas. Se este for o comportamento do Benfica, o clube será respeitado.
AB: Consigo na presidência, como serão as relações institucionais com os rivais Sporting e FC Porto?
CC: A mesma coisa. Relações institucionais. Uma coisa é a rivalidade em campo. Outra coisa são os interesses do futebol português.
AB: Quais os seus planos para fortalecer as modalidades do Benfica?
CC: As modalidades são um problema no Benfica que neste momento está com algum descontrolo. Gastamos muito e ganhamos pouco. Tirando as modalidades no feminino, onde temos alguma hegemonia que agora parece que estamos a começar a perdê-la. Já existe ali muita azia interna [entre Fernando Tavares e Pereira da Costa após a final da Supertaça feminina]. Pessoas que demonstram esse tipo de azia têm de sair do Benfica porque não somos esse tipo de clube. Mostra um absoluto descontrolo no Benfica.
Defendo uma estrutura totalmente profissional para as modalidades que é o que não existe hoje. Criar umas mini SAD com uma estrutura parecida com a SAD do futebol e serem aplicadas a cada modalidade ou a grupos de modalidade para as poder otimizar. Teremos de selecionar duas modalidades, que ainda não estão definidos no nosso programa porque não temos os elementos necessários para termos segurança nessa posição, e investir nelas para terem capacidade de competir lá fora e ganharmos títulos europeus. Nas outras temos de reorganizar.
Veja também: St. Juste toma medida drástica que trama o Sporting
AB: No futebol feminino, o Benfica é hegemónico a nível interno. Qual o próximo passo para ser mais competitivo na Liga dos Campeões?
CC: O futebol feminino é algo para o qual o Benfica tem de olhar com muito carinho. E está a fazê-lo. Há um forte investimento no futebol feminino para ganhar os títulos que ganhamos. Só que somos hegemónicos, mas não somos avassaladores. Para nós sermos competitivos a nível europeu temos de fazer um investimento muito maior. Outros clubes já deram esse passo. E quando começamos a ter os mesmos vícios que temos no futebol masculino, que é começar a vender as nossas melhores jogadoras, alguma coisa vai mal no reino. O caminho é repensar o futebol feminino, nomeadamente na forma de vender o espetáculo e de potencializar as atletas. Temos de levar mais pessoas ao estádio, transmitir mais jogos, criar mais estrelas dentro do clube.
AB: Tem alguma estratégia para a bilhética e tornar os jogos mais acessíveis para os adeptos?
CC: A bilhética no Benfica tem duas vertentes. Temos os jogos em casa e os jogos fora. Nos jogos em fora, o Benfica nada pode fazer. São os bilhetes que lhes são atribuídos. A venda dos bilhetes tem de ser transparente e com critério para os sócios. O critério que defendo para os jogos fora é o código postal de proximidade. Tem preferência o sócio mais próximo do sítio onde o jogo vai acontecer. A partir dali, ordem de inscrição. Nos jogos em casa é mais complexo porque temos o estádio ocupado pelos Red Pass, onde temos de ser mais justos. Temos de criar critérios. Há x lugares disponíveis. Qual o critério de atribuição? Antiguidade de sócio. A partir daí, ordem de inscrição. Defendo também uma BTV onde os jogos sejam grátis para os sócios, permitindo diminuir a pressão sobre o estádio. Defendo também retirar do estádio todos os serviços administrativos aquelas áreas novas em lugares corporate.