Há conversas que mudam carreiras. E depois há conversas que mudam o mercado de transferências. Que o diga André Villas-Boas, que esta semana revelou um episódio delicioso no podcast Men In Blazers: o dia em que Gareth Bale entrou pelo seu gabinete adentro e lhe disse, com todas as letras: “Mister, não estou feliz”.
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Não era crise existencial. Era só o Bale a querer sair da lateral e ir brincar no ataque. Resultado? 26 golos, 11 assistências, título de melhor jogador da Premier League e uma mala feita rumo a Madrid… por 100 milhões de euros. E tudo começou com um simples “chefe, podemos falar?”
O dia em que Bale trocou o GPS da carreira
Villas-Boas, então treinador do Tottenham, achava que Bale era já um fenómeno. Mas o galês estava insatisfeito.
“Disse-me que não se sentia feliz em campo”, conta AVB. “Queria jogar mais à frente, num sistema com dois avançados. Eu disse-lhe: ‘Vamos experimentar e ver como corre’”.
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Spoiler: correu melhor do que um avião privado. No sistema 4-4-2, com Adebayor a fazer de ponta de lança “sacrificado”, Bale virou bicho, passou a rematar de todo o lado e tornou-se o pesadelo dos guarda-redes ingleses. Marcou 26 golos numa só época. Deixou de ser “o gajo rápido da ala” para passar a ser “o gajo que te destrói em dois toques”.
O mérito é de quem?
Villas-Boas, com humildade rara no meio, diz que não foi ele a fazer magia: “Não posso dizer que lhe dei treinos especiais. O mérito foi dele. Só lhe dei liberdade. Ele precisava de se expressar. E tínhamos essa ligação humana que lhe deu confiança”.
A verdade é que Bale passou de promessa a estrela planetária, e o Real Madrid pagou como tal. 100 milhões de euros, recorde mundial na altura, por um jogador que até então era mais conhecido por correr muito e cruzar bem. Depois disso? Cinco Champions, três Mundiais de Clubes, dois títulos de melhor cabeceamento de bola… e um par de golos em finais que ainda hoje deixam defesas em posição fetal.
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E depois?
Ainda voltou a Londres, em 2020/21, para uma passagem tipo Erasmus nos Spurs. E antes de pendurar as chuteiras, foi até à Califórnia jogar pelo Los Angeles FC, onde marcou um golo de antologia e, provavelmente, ganhou mais sol do que em toda a carreira britânica.
Reformou-se em 2022, com 32 anos, deixando no currículo uma colecção de troféus, memórias épicas… e uma carreira que mudou no momento certo, graças a uma simples conversa.
Moral da história? Às vezes, tudo o que é preciso é coragem para entrar no gabinete do chefe e dizer: “Quero fazer outra coisa.” Com um bocado de sorte, também acabas a ganhar 100 milhões (ou pelo menos um lugar no ataque da equipa da empresa).
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