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Nacional
29/06/25

Eis como jogam as equipas de Farioli, o técnico cobiçado pelo FC Porto

De discípulo de De Zerbi a nome falado para o Dragão: será Francesco Farioli o treinador certo para devolver identidade e ambição ao FC Porto?

Aos 36 anos, Francesco Farioli é mais do que um nome promissor no futebol europeu — é o reflexo de uma nova vaga de treinadores obsessivos pela organização, pelo detalhe e pelo controlo. O italiano está no radar de André Villas-Boas para orientar o FC Porto e, apesar de não ter ainda conquistado títulos relevantes, é visto como um técnico de autor, capaz de transformar equipas em pouco tempo. Mas será o momento certo? E sobretudo: o FC Porto terá o contexto ideal para que as ideias de Farioli resistam a uma época de exigência extrema? 

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Um discípulo com ADN tático 

Farioli não foi jogador profissional, mas soube desde cedo o que queria: treinar. Com formação na exigente academia de Coverciano, iniciou-se como treinador de guarda-redes sob a alçada de Roberto De Zerbi no Benevento e depois no Sassuolo. Do mentor herdou o gosto por um futebol paciente, técnico e cerebral, com construção desde trás, ocupações racionais dos espaços e uma pressão alta bem trabalhada

Foi na Turquia que começou a dar cartas como treinador principal, com passagens marcantes pelo Karamguruk e Alanyaspor. Este último terminou a liga com o melhor registo de sempre. De lá seguiu-se a Ligue 1, onde encantou com o Nice — clube que, à 19.ª jornada, tinha a segunda melhor defesa das Big Five, atrás apenas do Inter. Pelo caminho, vitórias fora de portas frente ao PSG, Mónaco, Lens ou Rennes

No entanto, tal como aconteceria depois no Ajax, a temporada não terminou em festa. Uma quebra brutal em fevereiro e março fez a equipa cair para o 5.º lugar. Ainda assim, assegurou a qualificação para a Liga Europa

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Ajax: promessas, lágrimas e desilusão 

O passo seguinte foi ainda mais ambicioso. O Ajax contratou Farioli no verão de 2024 como o primeiro técnico italiano da história do clube. O início foi auspicioso: a equipa recuperou a sua identidade ofensiva, praticando um futebol dominador, com linhas subidas e construção apoiada. Ganhou ao PSV, goleou o Feyenoord e liderou durante largas semanas a Eredivisie

Mas tudo desmoronou no final. Uma série de apenas uma vitória nas últimas cinco jornadas permitiu ao PSV dar a volta à classificação e sagrar-se campeão por um ponto. Farioli chorou no relvado. A despedida foi emotiva e honesta: “Temos visões e calendários diferentes”, explicou, referindo-se à direção do clube. 

Ainda assim, foi elogiado internamente. Alex Kroes, diretor técnico, reconheceu que “deu nova energia ao Ajax” e teve “papel fundamental na reaproximação ao ADN do clube”

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O seu futebol: pressão, posse e inteligência situacional

O estilo de Farioli pode ser descrito como De Zerbi com ajustes: construção curta desde trás, laterais por dentro, jogo interior para criar superioridade, e extremos bem abertos para explorar o 1x1. O guarda-redes é um pivot adicional na saída de bola, e os centrais têm liberdade para abrir e atrair a pressão. Quando é necessário, sabe fugir à rigidez do ataque posicional e aposta em transições rápidas e verticalidade.

No Nice, usava preferencialmente o 4-4-2 ou 4-1-4-1, com variações para 5-4-1 consoante o jogo. Apostava num duplo-pivot flexível, pressão feroz e movimentos coordenados em todos os setores.

No Ajax, adaptou-se. Optou por um bloco mais baixo em certas fases, com Henderson a fechar o corredor central e uma aposta clara na pressão coordenada após perda. O Ajax sob Farioli era das equipas com menor número de passes permitidos ao adversário antes da recuperação da bola (média de 12,1 PPDA, segundo o Opta Analyst). Também apostou forte na rotação, utilizando jovens e segundas linhas como Branco van den Boomen ou Carlos Forbs. 

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Será o FC Porto o contexto certo?

O FC Porto de 2024/25 é um clube em transição. Perdeu referências, lida com a pressão interna e externa de resultados imediatos e vive sob o espectro de um passado recente turbulento em termos de identidade. Villas-Boas tem aqui um dilema claro: escolhe um treinador mais pragmático e estabilizador, ou arrisca numa ideia mais progressista, mesmo que ainda frágil emocionalmente?

Farioli é exigente, intenso e metódico. Precisa de tempo para moldar equipas, e já mostrou que a pressão final de épocas pode ser o seu calcanhar de Aquiles. No entanto, também provou que sabe fazer muito com pouco. A sua proposta de jogo é moderna, competitiva e respeitadora da cultura dos clubes que representa.

Se chegar ao Dragão, terá de ter uma estrutura que o proteja, um plantel que assimile as ideias e a coragem para enfrentar a crítica num clube onde vencer é tudo. Mas se há um treinador jovem que pode surpreender num grande português, é ele. 

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André Miguel Rodrigues